Sem tanto desconforto

Sem tanto desconforto

Novo procedimento reduz o período de recuperação da cirurgia que corrige as hemorroidas de oito semanas para até dois dias.

As hemorroidas acometem até quatro pessoas em cada dez com idade acima dos 40 anos. Em geral, esses indivíduos adiam a consulta médica até o momento em que sintomas como ardência e sangramento ficam insuportáveis. “A maioria chega com a doença em estágio avançado, quando não pode mais ser corrigida com mudanças nos hábitos alimentares e remédios e é necessário operar”, afirma o proctologista e cirurgião Carlos Sobrado, presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Entre as recomendações sobre a dieta estão o aumento de consumo de alimentos com fibras e também da ingestão de água. Avanços recentes da medicina, porém, já permitem eliminar as hemorroidas – vasos sanguíneos dilatados e inflamados na região do reto – por meio de um procedimento sem cortes, o que reduz sensivelmente o sofrimento do paciente no pós-operatório e o tempo de recuperação. Na cirurgia convencional, os vasos dilatados e a pele exposta são cortados com bisturi ou laser. Apesar dos bons resultados, as feridas na região do reto levam entre quatro e oito semanas para cicatrizar completamente e pode haver dor intensa. Pela nova técnica, chamada THD (dearterialização hemorroidária transanal), o paciente está em condições de voltar para casa cerca de 12 horas após o procedimento. “Atualmente, a cada dez casos, oito ou nove podem ser resolvidos com o método”, afirma Sobrado. A técnica não é adequada apenas nos casos de hemorroidas muito expostas.
O princípio do método, criado na Itália, é secar as hemorroidas em vez de cortá-las. Como? “Eliminando o suprimento de sangue delas”, explica o proctologista Sidney Klajner, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Para obter esse resultado, usa-se um aparelho chamado anuscópio. Ele associa uma sonda com ultrassom a uma agulha. Guiado pelas informações fornecidas pelo equipamento, o cirurgião identifica os vasos que levam sangue às hemorroidas. Em seguida, usa a agulha para amarrá-los com pontos e interromper a circulação. Sem sangue, as hemorroidas murcham. “Com essa técnica, em geral no dia seguinte a pessoa pode até voltar ao trabalho”, diz Klajner, introdutor do método no País. Sobrado e ele são os responsáveis no Brasil pelo treinamento de quem deseja operar pela técnica.
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CUIDADO: Sobrado trabalha para que mais pessoas procurem um médico e tratem o problema

Alguns seguros-saúde incluíram a cirurgia na sua cobertura, mas não são todos. “Há mais métodos, como a fotocoagulação e a ligadura com elásticos, mas são cada vez menos usados porque outros dão melhores resultados”, diz Klajner. A paulista Marlene Perez, 71 anos, fez duas cirurgias para tratar hemorroidas. Na primeira, há 20 anos, ela ficou uma semana no hospital e sofreu um bocado na recuperação. No ano passado, passou pela nova cirurgia. “Fiquei um dia apenas no hospital. Depois precisei tomar somente um analgésico e não senti dores”, diz.

O médico Sobrado espera que o desenvolvimento de métodos como esse, menos invasivos, incentive quem tem sintomas a procurar um especialista o quanto antes. “Especialmente se a pessoa tiver sangramento, porque é um sinal de hemorroidas em fase adiantada, mas também pode ser um indicativo de tumor de intestino”, diz. No ano passado, Sobrado operou cinco colegas médicos que pensavam ter hemorroidas e foram adiando a consulta. “Nos exames pré-operatórios, descobrimos que era câncer de intestino. “E é sabido que quanto mais cedo a pessoa for diagnosticada, maiores são as chances de cura”, diz o especialista.

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Publicado por Mônica Tarantino em 14 de março de 2015 em ISTOÉ.

 

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